quinta-feira, 19 de junho de 2014

Dia 2 – Ashford – Dover – Calais – Bruay de la Brussiere


Dia 2 – Ashford – Dover – Calais – Bruay de la Brussiere (Day 2)

O dia começou bem cedo, por volta das 7:00 e depois de uma noite mal dormida ainda a sonhar com as emoções do dia e os gritos constantes de aviso e de instruções a quem segue junto a nós e que ficaram como gritos de guerra (Buraco! Travar! Encostar! Reagrupar! Avançar).

Parti no primeiro grupo e o nosso destino era Dover onde iríamos apanhar o ferry para Calais às 11:00. O caminho parecia relativamente simples até chegarmos à primeira verdadeira subida da viagem que apenas alguns bravos conseguiram fazer sem desmontar da bicicleta enquanto outros mesmo subindo a pé até o fizeram sem os sapatos.

(The day started really early, arround 7:00 AM and after a not very good sleep still dreaming about the whole day emotions and the constant shouts of warning and instructions to people that cycles behind you and that we kept as our own war shouts (Hole! Breaking! Pulling up! Regrouping! Push on!)  

I left with the first group and our destiny was Dover, where we would catch the ferry to Calais arround 11:00. The route seemed quite simple until we reached the first true hill of the journey that only a few brave were able to cycle while others walked (myself included) and some even barefoot.)

Chegámos a um ponto onde a estrada parecia tornar-se demasiado perigosa e não nos levar até Dover e cometemos o primeiro erro do dia: perguntamos qual a melhor direção  ao vendedor numa roulote de hambúrgueres à beira da estada que nos indicou uma direção que viria a revelar-se bastante difícil. Primeira lição da viagem: Nunca confiar nos locais para indicações!

Lá seguimos por uma estrada maravilhosa e com pouco trânsito, mas chegámos a um ponto em que não sabíamos para onde seguir e o GPS continuava a apontar para a direita, pelo que foi inevitável tomar essa direção e voltamos a deparar-nos com mais uma subida que alguns novamente desmontaram  o que tornou aquela subida cada vez mais longa.

Era uma estradinha maravilhosa em que pedalei nuns suaves 10kms/h totalmente rodeada de arvoredo para ser recompensada no cimo da colina com uma maravilhosa vista sobre campos sem fim e ansiando por fazer a alucinante descida que se adivinhava no horizonte. Enquanto esperávamos no cimo da colina pelos restantes membros do grupo, adivinhava-se no horizonte uma grande tempestade e que acabou por nos acompanhar até Dover.

(We reached a point on the road where it seemed too dangerous to continue and wouldn’t lead us to Dover and we commited the first error of the day: asked the best direction to a burguer joint vendor that indicated a direction that would reveal itself as quite difficult. First lesson of the journey: Never trust the locals for directions!

We went through a very nice road with low traffic, but reached a point were we didn’t know where to go and the GPS kept pointing to the right, and it was inevitable to take that direction and we ended up facing another climb where some dismounted again, which made the hill even longer.

It was a beautiful road and I climbed it on a very soft pace of 10km/h completely surrounded by vegetation to be rewarded at the top of the hill by a breathtaking view over endless fields and just waiting anxiously for the trill of the descent that we could guess that was just right ahead. While we waited at the top of the hill for the remainning part of the group, we could guess that a storm was coming on the horizon and that would be our companion until we reached Dover.)




A descida teria sido maravilhosa, não fosse a chuva torrencial que nos encharcou até aos ossos. Todo o equipamento para nos proteger da chuva havia ficado nos carros de apoio  e não havia maneira de evitar que nos molhássemos. Conseguia sentir a chuva a entrar pelos sapatos por todo os lados e as rodas ainda faziam a gentileza de molhar mais ainda.

Com muito cuidado e usando os travões como se a vida dependesse disso, lá fomos nós colina abaixo até chegarmos as primeiras casas de Dover e o GPS anunciar efetivamente que nos encontrávamos em Dover. Continuámos o nosso percurso e lá começámos a ver a zona do porto onde nos esperavam para apanharmos o ferry.

Assim que chegámos, entregámos as bicicletas para serem colocadas dentro da carrinha de apoio e dirigimo-nos para a sala de espera onde nos esperava o segundo grupo completamente seco. Não haviam seguido pelo mesmo caminho que nós e conseguiram chegar sem apanhar qualquer gota de chuva.

Infelizmente, o autocarro que leva os passageiros a pé para o ferry já havia partido (parte com 45 minutos de antecedência em relação à partida do ferry e havíamos chegado tarde demais e acabámos por perder o ferry das 11:00 por apenas uns 5 minutos.
Esgotada a adrenalina do percurso alucinante comecei a tremer e a bater os dentes com o frio causado pelas roupas completamente encharcadas. Gentilmente um dos nossos anjos da estrada – Frances Eason – começou a tirar a sua própria roupa do corpo para nos dar e lá consegui aquecer um pouco, mas era absolutamente necessário tirar as roupas molhadas ou poderia apanhar uma constipação que poderia pôr em causa a restante viagem. Todavia, as bagagens estavam completamente atoladas dentro dos dois carros de apoio, tornando completamente inacessível o acesso a novas roupas, antes de terminada a travessia.
Ficámos na sala de espera dos passageiros e lá passei o tempo todo a secar as roupas no secador de mãos da casa de banho a beber um chá quentinho que a Jean Spillane me trouxe (Nunca me irei esquecer desse chá! Muito Obrigada!). Passado cerca de uma hora desde que havíamos chegado lá entrámos no ferry onde nos esperava uma bela refeição no restaurante do barco que fez uma travessia completamente estável e sem quaisquer solavancos. Foi com grande emoção que ouvimos a mensagem do capitão do navio a dar as boas vindas a bordo a todos os passageiros e em especial ao grupo de ciclistas que se encontrava a caminho da sua travessia em nome de uma causa maior.

(Going down the hill would have been wonderful if it wasn’t for the enormous storm that soaked us to the soul. All rainproof gear was inside the support vehicles and there was no way to avoid getting wet. I could feel the rain entering my shoes from all fronts and the bike wheels made their very best to soak better everything.

With extra care and making use of the breaks like your life depended on it, there we went down the hill until we reached the first houses of Dover and the GPS finally announced that we were actually in Dover. We continued our way until we first saw the harbour area where we were being waited to get into the ferry.

As soon as we arrived we delivered our bikes to be carried into the support van and we went to the passengers’ waiting room where the second group awaited us totally dried. They had not followed the same route we did and therefore were able to arrive without catching a single drop of rain.

Unfortunately, the bus that carries the walking passengers to the ferry had already left (it leaves 45 minutes ahead of the ferry departure and we just had arrived too late) and we ended up to loose the 11:00 AM ferry just for 5 minutes.

Drained out the adrenalin of the exhilarating ride I started shivering and knocking my teeth with cold because of all the wet clothing. Kindly, one of our road angels – Frances Eason – started to take her own clothes to give us and I was able to warm up a bit, but it was absolutely imperative to change the wet clothing or I could catch a cold that may put the whole trip in stake for me. Regrettably the luggages were all very well packed on the support vehicles, which made impossible to access to dry clothes before the crossing was over.

We stayed on the passengers’ waiting room and I spent the waiting time drying my clothing and shoes with the toilet hand dryer, while drinking a warm tea that Jean Spillane kindly brought me (I’ll remember that tea forever! Many thanks!). After almost one hour since we had arrived there we entered the ferry where a very nice meal awaited us in the boat restaurant, which made a very stable and smoothly crossing. It was with huge emotion that we heard the ship’s captain welcoming the passengers and making a special referrence to the group of cyclists that were on board in the name of a greater cause.)

 


Chegados a Calais atingiu-nos a realidade do que nos esperava. Apesar de um sol maravilhoso, faltavam-nos 90kms para o destino daquela noite e já eram 16:00 (hora de França). Resolvemos manter o grupo totalmente junto de modo a evitar que alguém se separasse.

O grande grupo de ciclistas lá seguiu pela estrada fora onde começámos a sentir o grande entusiasmo do povo francês pelo ciclismo, pois eram constantes os acenos e os gritos de força e coragem que nos lançavam por onde íamos passando.

A restante viagem correu sem quaisquer sobressaltos, mas a distância ainda era muito longa e foi apenas às 21:30 que chegámos ao hotel já com as luzes colocadas nas bicicletas e constatámos que éramos o primeiro grupo a chegar ao fim dos 130km. Foi com enorme surpresa que nos disseram que não podíamos levar as bicicletas para os quartos e que tinham de ficar na rua, mas depois de algumas acesas discussões com a responsável do hotel lá disponibilizaram dois espaços com dimensão suficiente para guardar as bicicletas.

Porém, não podíamos subir para os quartos para tomar o tão ansiado banho, porque a carrinha que transportava as nossas bagagens andava a percorrer a estrada para apanhar alguns dos ciclistas que não conseguiram aguentar o percurso até ao fim.

Estava eu a fazer os telefonemas da praxe para a família, quando me chamam para que entrasse num dos carros de apoio e fôssemos jantar sem esperar por mais nada. Já estavam sete pessoas dentro do carro para cinco passageiros, mas sempre se arranja espaço para mais uma e lá fomos bem apertadinhos na curta distância até ao restaurante mais próximo – Buffalo Grill – onde comemos uns enormes hamburgueres acompanhados de batatas fritas.

Quando chegámos ao hotel deparámo-nos com alguns colegas a recuperar dos esforços daquele longo dia.

(Upon arrival to Calais reality hit us. In spite of a wonderful sunny afternoon, we still had 90kms for our final destination on that night and it was already 16:00 (France time). We decided to keep the group always together to avoid anyone got separated. 


The big group of cyclists started their way on the road and we started to feel the great enthusiasm of the French people for cycling, as we witnessed the constant waves and shouts of strength and courage they launched as we went by.

The remaining trip went very well without any problems, but the distance was still very long and it was only arround 21:30 that we arrived to the hotel, already with the bike lights on and we realized that we were the first group to arrive at the end of the 130km. It was with great surprise that we received the news that we couldn’t take our bikes to the rooms and that they would have to be left outside, but after some heated discussions with the hotel manager they made two spaces available for storing the bikes safely.

Notwithstanding, we couldn’t go up to our rooms and take the well deserved shower, because the support van that had our luggages was still going through the road picking up some of the cyclists that were not able to continue on the bike until the end.
While I was making the usual phone calls back home to assure the family that I was ok, I heard my name being shouted to enter one of the support vehicles to go to some place to have dinner. The five car passengers already had seven people inside, but there is always room for one more and there we were like “clowns on a mini” in the short distance from the hotel to the nearest restaurant – Buffalo Grill – where we ate these huge burguers with french fries on the side.

When we returned to the hotel we found some of our colleagues stretching from the efforts of such a long day.)

 

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Dia 5 – Encontro no escritório







Dia 4 – Amiens – Paris


O dia começou fresquinho e com a ameaça de tempestades no horizonte, mas adivinhando-se uma subida das temperaturas. Começámos novamente pelas 7:00, mas ainda estávamos a pedalar há pouco tempo quando começámos a ouvir os trovões e resolvemos abrigar-nos numa bomba de gasolina de supermercado até que a tempestade passasse.

Lá arrancamos novamente devidamente equipados para a chuva que sabíamos que dificilmente iríamos evitar, especialmente quando iniciámos a parte da viagem em que não iríamos passar por quaisquer casas, mas apenas campos de cultivo sem fim, onde as torres eólicas giravam impiedosamente e nos lançavam mais correntes de vento e chuva que nos exigiam cada vez mais das nossas pernas.

Depois de grande esforço lá chegámos a uma pequena vila onde encontrámos uma boulangerie maravilhosa onde comemos uns deliciosos croissants e baguettes...nham...nham...


 

 

 
Essa vila seria o ponto final da viagem para a minha companheira Manuela, pois estava em demasiado sofrimento para poder continuar a viagem e para evitar consequências maiores, seguiu o resto da viagem nos carros de apoio.

Continuamos o resto da viagem debaixo de chuva que haveria de nos acompanhar até estarmos apenas a 20km do nosso hotel em Paris.


 


Ao fim de um dia de 145kms, chegámos a Paris onde ficámos num hotel que ainda se encontrava a 15kms do nosso destino final – o escritório da Genworth em Paris. Nessa noite havia que celebrar pois havíamos cumprido a nossa missão de chegar a Paris e fomos jantar em Montmatre.



Nessa noite recebi a triste notícia de que eu não iria poder completar a pedalada final no dia seguinte, pois nenhum dos carros de apoio poderia levar a minha bagagem e saco de transporte da bicicleta para o escritório e o meu voo para Lisboa era às 16:00 e não podia arriscar perdê-lo. A minha aventura terminava ali, mas sentia na mesma a vitória do que tinha feito: tinha viajado de Londres a Paris em bicicleta!!! Tinha pedalado kms e kms sobre chuva e vento...um novo limite tinha sido ultrapassado e tinha vivido momentos maravilhosos!!!


Dia 3 – Bruay de la Brussiere – Amiens


Atendendo ao facto de que o dia anterior havia sido muito longo e por estarem apenas planeados 111kms para este dia, resolvemos partir apenas Às 10:00.
O dia advinhava-se particularmente quente e foi ainda durante a manhã que começámos a sentir as temperaturas perto dos 30°, tendo atingido nalguns locais por onde passámos uns simpáticos 38,5°.



Durante a paragem de abastecimento da manhã  presenciámos mais um episódio do entusiasmo do povo francês pelo ciclismo na pituresca vila de Achicourt, encontrámos os trabalhadores da vlla a festejarem muito animadamente o final dos seus trabalhos e ficaram tão entusiasmados com a nossa passagem que pediram para tirar algumas fotografias connosco, pois era uma honra o nosso grupo ter escolhido passar pela sua pequena vila.


Neste dia estava planeado passar por alguns monumentos emblemáticos erigidos em memória dos heróis da Primeira Guerra Mundial e foi grande pesar que passámos pelos memoriais a tantas vidas perdidas num dos maiores conflitos armados do século XX.






 

Foi um dos melhores e mais bonitos dias de toda a viagem, mas a saída tardia e a demora nas diversas passagens e um longo almoço, fizeram com que chegássemos novamente ao hotel apenas por volta das 20:00.







 
Viajámos sempre em grupo, sem nunca nos separarmos e fizemos uma entrada gloriosa em Amiens, onde nos esperava um hotel com quartos muito pequenos e sem qualquer sítio onde guardar as bicicletas. Valeram-nos novamente os nossos anjos da estrada que guardaram todas as nossas preciosas máquinas na carrinha de apoio, bloqueando muito astutamente todas as portas encostando muito bem a carrinha a uma sebe e os dois carros a ladeá-la. Voltámos a jantar no Buffalo Grill – Seria possível comer mais hambúrgueres? Sem dúvida! Noite muito bem dormida, mas muito curta porque no proximo dia esperávam-nos os últimos kms que nos levariam a Paris.